Sabe quando você ouve falar de um autor e depois de algum
tempo você decide comprar o livro dele porque sente que vai gostar? Foi isso
que aconteceu comigo em relação ao Guillaume Musso. Eu já tinha ouvido falar
desse autor em uma resenha do livro A Garota de Papel no blog Romances in Pink
(link aqui) e há alguns meses atrás, eu tinha visto um entrevista com ele num
programa da TV5 Monde chamado L’invité (algo como “O convidado” em português).
Dá para assistir o programa aqui, mas infelizmente, ele não tem legendas em
português e eu ainda não sei muito de francês para fazer uma boa tradução. Aí
veio minha formatura de computação pelo CEDERJ, e como ela ocorria em Niteroí,
pensei que seria uma boa ideia comprar um livro desse autor como uma pequena lembrança
da cidade (Sim, prefiro isso do que chaveirinhos e camisetas típicas de
turistas.). Mas quando fui ao shopping mais próximo, de onde foi a formatura, que
é o Niteroí Plaza, eis que descubro que os livros do autor não estavam
disponíveis em loja alguma (mas acabei encontrando um livro vira-vira da Nora
Roberts nas Lojas Americanas). Mas teimosa como sou, não se passou poucos dias,
e acabei comprando no Submarino os dois livros do Guillaume lançados pela Verus Editora, O chamado do anjo e A
garota de papel, pois fiquei muito indecisa de qual livro levar.
Capa e contracapa de O chamado do Anjo. Respectivamente, retratam a Madeline e o Jonathan de uma forma bem instigante. |
Acabei lendo primeiro O chamado do anjo, e juro, não me
arrependi da escolha. Guillaume conseguiu criar uma história de suspense,
romance e superação bem alucinante e com algo que poderia acontecer a qualquer
um: ter seu celular trocado com o de outra pessoa. Alias, foi esse o fato que
aconteceu com o próprio autor que o inspirou a escrever esse livro. Penso até a
tal “desconhecida do aeroporto”, como ele chama a moça com quem ele trocou o
celular, deve ter tido uma reação semelhante à de um dos personagens de A
garota de Papel (Confesso que dei uma folheada no final desse livro sem ter
lido ainda, mas acho que a cena que falei poderia também ter acontecido com
essa desconhecida).
A partir desse mote, Guillaume cria uma história que no
inicio poderia ser um romance que também denúncia como somos curiosos sobre a
vida alheia, mas a cada fuçada nos celulares e arquivos dos personagens,
descobrimos que eles tinham um passado que os traumatizou e do qual fogem para
evitar que ele tire as suas vidas, literalmente.
Jonathan Lempereur, o dono de um restaurante francês em São
Francisco, o French Touch, divorciado, que ia levar o filho para passar as
festas de fim de ano com ele e o seu tio, tomba em Madeline Greene, dona da
floricultura Jardin Extraordinare em Paris, que estava voltando de férias com o
noivo, em um restaurante do aeroporto JFK em Nova York. Nesse tombo, eles
acabam trocando os seus celulares e só percebem isso quando estão em suas
casas. Eles até entram em contato e tentam destrocar os celulares sem mexerem
em nada, mas a curiosidade vence, principalmente no caso do Jonathan, e eles
acabam descobrindo o lado secreto e trágico um do outro (e isso sem fuçar nas
redes sociais, o que é estranho para um livro que se passa em 2011). A partir
daí, eles percebem que mesmo sem terem se conhecido antes, suas vidas já
estavam ligadas por causa de uma pessoa, que vai precisar mais do que nunca da
ajuda deles.
Não vou falar mais do enredo do livro porque vou acabar
revelando muita coisa e dando mais spoliers do que deveria nesse livro. Mas
posso dizer que Guillaume consegue te prender em uma história de suspense e
romance (Sim, os protagonistas se apaixonam!) que também nós fala das segundas
chances que a vida nos dá, mesmo que seja de uma forma que nos faz ficar mais
nervosos pelo que vai acontecer do que pelas lágrimas que poderiam vir em
outras histórias sobre esse assunto.
Aquela mulher... Ele sabia que por trás da carapaça dura e fria se escondia uma pessoa sensível e complexa. Fora graças a ela que saíra de seu topor. Novamente, sentiu aquele vinculo inédito que os unia. Naqueles últimos dias, haviam empreendido um aprendizado rápido um do outro, Haviam alimentado uma obsessão mútua, desvendando seus segredos mais íntimos, expondo suas falhas, sua fragilidade, sua tenacidade, descobrindo forças e fraquezas que pareciam ecoar. (Página 230)
Os personagens nos apresentam segredos e dificuldades do
passado e você vê o quanto de dor eles passaram. E vê que se não houvesse a
ajuda do destino, essa história nunca teria acontecido. A pessoa que os une
também tem uma história sofrida e que sabe mais do que nunca que não é o ambiente,
mas a capacidade de superar todas as dificuldades o que molda o caráter de um
ser. Mas, o que ocorre com ela me faz questionar as relações entre órgãos de
governo e de polícia, mas só quem ler vai entender o que eu digo. E no final,
ao se ajudarem, Jonathan e Madeline, enfrentam o passado e também acabam
ajudando essa pessoa.
Voltou a pensar em como se haviam conhecido. Nada teria acontecido sem aquele esbarrão no aeroporto. Nada teria acontecido se não tivessem trocado os celulares por descuido. Se ela tivesse entrado naquela cafeteria trinta segundos mais cedo ou mais tarde, nunca teriam sabido da existência um do outro. Estava escrito. Um estranho golpe do destino, que escolhera aproximá-los num momento decisivo. O chamado do anjo, como dizia sua avó... (Página 231)
Há um ditado que diz “Deus está nos detalhes”. Pelo jeito,
Musso segue isso a risca. Ele nos dá os detalhes dos lugares sem fazer com que
fiquemos enjoados com isso. Você acaba viajando por Paris, São Francisco e Nova
York através da história. Dá até vontade de parar e buscar no Google Maps cada
local (mas eu não fiz isso). O mais impressionante foi conhecer o Rungis, o
equivalente francês do Mercado Municipal de São Paulo, mas que só funciona de
madrugada. Senti vontade de visitar e ver se o que o autor diz é verdade, se o
Rungis é o maior mercado de produtos frescos do mundo.
O lugar era impressionante, uma verdadeira cidade, composta por milhares de pessoas, delegacia própria, estação de trem, corpo de bombeiros, bancos, cabeleireiro, farmácia e vinte restaurantes! Ele adorava aquela efervescência, entre quatro e cinco horas da manhã, quando as atividades chegavam ao auge, em meio ao balé dos caminhões, abarrotados de um universo de aromas e sabores. (Página 102)
Uma pequena visão do Rungis tirada da busca do Google. |
Outro fato que mostra essa atenção aos detalhes de Guillaume
Musso é a citação de datas e locais de eventos reais para contextualizar a
história. Para citar uma história envolvendo a pessoa que está ligada a vida
dos protagonistas, ele acaba citando uma partida de rugby (Inglaterra X
Escócia, pelo Torneio Seis Nações, no dia 21 de março de 2009) e uma partida da
Liga dos Campeões da Europa (Manchester United X Porto, no dia 7 de abril).
Quando pesquisei sobre esses jogos, vi que eles realmente aconteceram. Não vou
citar o trecho aqui, pois posso dar spolier sobre essa pessoa. Alias, a história
(sem contar as passagens nos passado dos protagonistas) se passa em um espaço
de uma semana e acaba no dia do Natal de 2011 (mesmo que nenhum personagem
tenha dado um feliz Natal), e nas partes em Paris, já se falava das preparações
para eleições presidenciais francesas de 2012.
Empurraram a porta do Cordeliers, bistrô instalado no centro do setor hortifrutigranjeiro. Em torno do balcão, vários fregueses jogavam conversa fora, falando sobre como o mundo poderia ser melhor, diante de uma taça de vinho ou de um cafezinho. Alguns estavam absortos na leitura do Parisien, outros preenchiam formulários da loteria ou de corridas de cavalo. Muitas conversas giravam em torno das próximas eleições presidenciais. Sarkozy seria reeleito? A esquerda escolhera o melhor candidato? (Página 105)
Mais curioso ainda é ver que o autor fez pessoas reais se
envolverem em sua história, bem ao estilo Forrest Gump. Fico imaginando se
Hillary Cinton, Michael Bloomberg e Frédéric Mitterrand (acho que esse último
vocês não conhecem, mas ele é sobrinho de François Mitterrand, presidente da
França entre 1981 e 1995, e já foi apresentador e produtor de TV, dirige e
produz documentários, é escritor, e no tempo em que essa história se passa, era
o ministro da cultura e da comunicação da França) leram esse livro e a reação
deles ao se verem “falando” sobre a vida de um personagem fictício. Só não cito a cena aqui, porque vou dar um belo spolier sobre esse personagem.
Além disso, o autor também acaba dando várias referencias
culturais entre uma cena e outra. Seja nas citações no início de cada capitulo
(há uma bibliografia no fim que conta de onde elas foram retiradas), seja pelos
fatos que ocorreram e marcaram a história das ruas por onde os protagonistas
passam (com exceção de Cheatam Bridge, que é uma cidade fictícia, mas o autor
conta isso em uma nota no final do livro), e até mesmo pelas rádios e sites
citados lá. Por exemplo, a rádio favorita da Madeline, a TSF Jazz pode ser
ouvida aqui.
Guillaume também acabou criando uma trilha sonora com
músicas e óperas que são citadas no livro. As óperas citadas são Carmen e Don Giovanni, que deixo aqui os links da Wikipédia para que vocês possam conhecer.
Mas criei uma playlist com as outras musicas para que vocês possam ouvir. Elas
foram colocadas na ordem em que foram citadas. Entre elas, está Le jardin
extraordinaire, de Charles Trenet, de onde surgiu o nome da floricultura de
Madeline e Que je t’aime, de Johnny Halliday (no livro, é citada uma versão em
japonês cantada por Johnny, mas acho que seria impossível de achar e de
entender).
A diagramação do livro ajuda a entender melhor a história e é feita de um modo que a gente sabe a quem a cena se refere, se estamos lendo a nota de um jornal que alguém está lendo, se estamos lidando com uma troca de SMS ou com um telefonema, com um texto de um cartaz, ou até as falas de um vídeo.
A diagramação do livro ajuda a entender melhor a história e é feita de um modo que a gente sabe a quem a cena se refere, se estamos lendo a nota de um jornal que alguém está lendo, se estamos lidando com uma troca de SMS ou com um telefonema, com um texto de um cartaz, ou até as falas de um vídeo.
Uma pequena amostra da diagramação do livro. |
O único porém desse livro e que fez ele levar um 4,5 (apesar
de que aqui só vão aparecer quatro livros) ao invés de um 5 é que não é dito o
que ocorre com outros personagens no final do livro, que com certeza, vão ter
suas vidas afetadas pelo que ocorre no final. Sei que o foco do livro é em
Jonathan e Madeline e até entendo que isso, mas queria ver como vai ser a
reação de Charly, o filho de Jonathan, de Marcus, o ex-cunhado de Jonathan que
vive sempre ao seu lado, e de Raphaël, o rapaz que tinha ficado noivo de Madeline
antes de tudo isso acontecer, quando descobrem o que aconteceu com os
protagonistas. É olha que ao meu ponto de vista, isso iria render muita
história...
Mas sei que mesmo com esse defeito, vocês vão amar O chamado
do anjo tanto quanto eu amei.
Espero que tenham gostado e até a
próxima resenha!
Letícia!
ResponderExcluirVocê me convenceu a querer ler este livro... adoro livros que citam lugares (que nos fazem querer ir conhecer pessoalmente) e com músicas... e romance e suspense. Meu Deus, eu preciso deste livro, mas cadê o tempo e o dinheiro???
Adorei! Arrasou! Resenha perfeita!!!!
Beijos