Antes de falar sobre “O mundo amarelo” e como eu descobri esse livro incrível e tocante, eu decidi explicar sobre os sick-lits, os livros em que as histórias possuem protagonistas que devem enfrentar doenças graves, além dos desafios do seu dia-dia. Esse tipo de livro ficou bastante popular no Brasil, assim como em outros países devido ao sucesso de “A culpa é das estrelas” de John Green, em que os protagonistas enfrentam tipos diferentes de câncer. Mas ao contrário dos young adults sobrenaturais ou dos romances eróticos, em que após os sucesso de um titulo várias editoras lançam títulos com o mesmo tema, nem sempre de boa qualidade, só com o intuito de conquistar uma parte de um mercado que se transformou em uma “galinha dos ovos de ouro”, os títulos de sick-lit não são numerosos, mas sim de boa qualidade. Isso é porque eles precisam, mesmo nas obras de ficção, de um bom trabalho de pesquisa sobre as doenças tratadas. Sem essa pesquisa, as histórias dos sick-lits seriam de péssima qualidade, pois não contariam sobre a doença e suas consequências em quem a sofre com a devida veracidade com a qual devem ser tratadas, principalmente no caso do câncer.
Dentro dessa categoria dos sick-lits, além de “A culpa é das estrelas”, também posso citar “Branca como o leite, Vermelha como o sangue” de Alessandro D’Avenia e “Como viver eternamente” de Sally Nichols. (Clicando nos nomes dos livros, você pode ver as resenhas deles, que foram feitas pelo blog Viagem Literária) Todos esses livros tratam sobre jovens que lidam com câncer e de como suas vidas mudam, não só por causa da doença, mas também pelas relações que se criam ou são intensificadas por essa situação.
Mas “O mundo amarelo”, publicado pela Verus Editora, é diferente. Não é uma ficção, pois conta a história de como o seu autor, Albert Espinosa, enfrentou o câncer e as lições tiradas dessa luta que ele levou para a vida pós-câncer. Mas também não é uma autobiografia comum, pois Albert conta sua história através dessas lições e de como descobriu o mundo amarelo que dá o nome ao livro.
"Pode chocar ver essas duas palavras juntas: feliz e câncer. Mas foi assim. O câncer me tirou coisas materiais: uma perna, um pulmão, um pedaço de fígado, mas me permitiu conhecer muitas outras coisas que jamais poderia ter descoberto sozinho." (Página 22)
Mesmo que no início do livro, o autor diga que ele não é um livro de auto-ajuda, ele passa lições que podem ser úteis para todos nós, não importa se somos saudáveis ou doentes. São de diversos tipos, como, por exemplo,“As perdas são positivas”, “Junte os lábios e sobre” e “Truque para não se irritar jamais”. Mas por trás de cada lição, há a história e as lembranças que levaram Albert a essas descobertas. E por causa delas, você vai perceber durante a leitura que até mesmo quando se enfrenta uma doença tão terrível quanto o câncer, há vida a ser vivida e lembrada, mesmo dentro de um hospital.
"Às vezes acho que muitos desejos meus se realizaram porque soprei muito no hospital.Acho que, sem saber, o organismo nos deu uma arma contra o azar; o problema é que a rotina desse superpoder fez com que nós não o percebêssemos." (Página 64)
No final, Albert nos apresenta um novo tipo de pessoas: os Amarelos. São pessoas especiais que nos completam com amor e afeto, mesmo que não estejamos sempre em contato com elas. No livro, ele explica as características dos amarelos e como devemos encontra-los em nossas vidas. Juro que após a leitura, eu já suspeito de algumas pessoas que eu conheço que podem ser os meus amarelos.
"Demorei bastante tempo para compreender isso, mas eles foram a base dos amarelos. Um belo dia, vi tudo claramente. Alguns amigos nos dão amizade, alguns amores nos dão paixão, sexo ou amor, e, finalmente, alguns são os AMARELOS." (Página 117)
“O mundo amarelo” nos mostra que não vale a pena sofrer a toa, pois quando Albert Espinosa mostra a sua visão de mundo, ele nos faz pensar que mesmo quem tem câncer, que é uma doença brutal e que mata tantas pessoas, consegue ter forças para ser feliz e acreditar em seus sonhos.
"Acho que o melhor da época em que tive câncer foi que sempre me deram as respostas. As respostas curam, as respostas ajudam. Fazer perguntas equivale a se sentir vivo. O fato de nos darem as respostas demonstra que confiam que saberemos o que fazer com essa informação." (Página 44)
Mas lembro de que tinha que falar sobre como descobri esse livro. Bem, curiosamente eu descobri esse livro por causa das séries que foram baseadas nesse livro principalmente a italiana (Quem leu outros posts meus sabe muito bem que costumo assistir a programas italianos).
Sim, o sucesso de “O mundo amarelo” foi tanto que foram produzidas duas séries, e uma terceira está para estrear na fall season da Fox americana (Para quem não sabe, a fall season é a temporada de lançamento de séries e novas temporadas nos canais de TV dos EUA, que ocorre entre setembro e outubro). As séries, ao invés de serem uma simples adaptação da história de vida de Albert, na verdade contam uma história totalmente nova de jovens que se encontram em um hospital durante os tratamentos das doenças de cada um deles, utilizando como base as lições que o autor conta em “O mundo amarelo” e também tratando de outras doenças como a síndrome de Asperger e a anorexia, além de possuir uma trilha sonora que se liga as histórias dos personagens.
A primeira série se chama “Polseres Vermelles” em língua catalã e “Pulseras Rojas” em espanhol. Ela foi produzida na Catalunha (região autônoma da Espanha que possui como idioma a língua catalã, e se alguém perguntar: Sim, é a região onde fica Barcelona) pela Televisió de Catalunya e é escrita pelo próprio Albert Espinosa e possui duas temporadas e já se pensa em uma terceira com o elenco já adulto para 2015 ou 2016, além de ter sido exibida em diversos países como os Estados Unidos e a Argentina. Vocês podem saber mais sobre a série na Wikipédia em espanhol e assisti-la no site oficial.
A segunda série se chama “Braccialetti Rossi” foi produzida na Itália pela Rai e foi dirigida por Giacomo Campiotti, que também dirigiu a adaptação para o cinema de “Branca como a neve, Vermelha como o sangue”. A série registrou um sucesso enorme não só de audiência, atraindo principalmente o público mais jovem, mas também de interação nas redes sociais, o que garantiu uma segunda temporada que será exibida no inicio de 2015. A trilha sonora, que reúne grandes astros do pop e rock italiano além de músicas criadas especialmente para a série por Niccolò Agliardi, também teve muito sucesso. Como falei, foi por causa dessa série que acabei descobrindo o livro, pois quando ela foi exibida na Itália pelo canal Rai 1, eu acabei ouvindo muito falar dessa série na Rai Italia (canal que exibe os programas da Rai fora da Itália, mas que ainda não exibiu “Braccialetti Rossi” no Brasil) e só descobri que foi inspirada em “O mundo amarelo” quando ouvi falar sobre o autor e o livro em um dos programas de lá. Mais tarde, no site do Grupo Editorial Record (de onde faz parte a Verus editora), eu acabei descobrindo que o livro já foi publicado por aqui.
Infelizmente, não é possível ver a série pelo site da Rai para quem é fora da Itália, mas para dar um gosto da série (De novo, estou na torcida para que exibam essa série na Rai Italia), mostro para vocês o clipe de uma das músicas da série “Io no ho finito” de Niccolò Agliardi e The Hills, que possui muitas cenas da série e o site da série, que vocês podem acessar por esse link, onde há também alguns trechos dela.
Observação: Os dois primeiros vídeos são do site rai.tv. Eles tocam automaticamente, então se não querem ver o vídeo no momento que a página carrega, é só apertar o botão play na barra de controle de cada vídeo para pausar o vídeo. Eu tentei configurar esse vídeos para que sejam exibidos sem que a imagem apareça cortada, mas no segundo vídeo (o da entrevista) a barra de controle do vídeo deixa de aparecer, mesmo quando se passa o mouse em cima dela quando o vídeo começa a tocar. Então para que esse vídeo possa ser exibido sem problemas, é necessário clicar o botão "Espandi", que é o penúltimo botão da barra de controle antes que ele comece a tocar. Esse mesmo processo serve para permitir que a barra de controle seja totalmente visivel no primeiro vídeo. Peço desculpas, mas o Blogger não é muito benevolente com vídeos que não sejam do You Tube. Ah, se querem verem esses vídeos em tela inteira, é só clicar no último botão da barra de controle, o botão "Fullscreen", que eles podem ser vistos em tela cheia.
Também separei uma entrevista feita ao elenco e ao diretor de “Braccialetti Rossi” no estúdio do TG1, um dos telejornais mais assistidos da Itália, no dia da exibição do último capitulo da 1ª temporada. O apresentador que fez a entrevista se chama Francesco Giorgino. Para quem não sabe italiano, fiz uma tradução da entrevista aqui. Não é uma tradução profissional, mas ajuda a compreender a entrevista.
A terceira série é a já citada novidade do fall season da Fox americana, que se chamará “The Red Band Society” e estreará no dia 17 de setembro nos EUA. O produtor não é nada mais do que Steven Spielberg. No inicio, essa série estava prevista para ser lançada pela ABC e teria o roteiro do piloto escrito por Marta Kauffman, um dos criadores de Friends, o que até aparece nas orelhas do livro, mas depois a produção passou para a Fox e o roteiro do piloto para Margaret Nagle, que já escreveu episódios de Boardwalk Empire. (Então, Verus, na próxima edição do livro, além de atualizar essa informação, aproveite para falar um pouco mais sobre cada uma das séries na orelha do livro.
Pelo que dá para ver no trailer que deixo para vocês verem, a estrutura do grupo de protagonistas vai ser diferente (Vão ser duas garotas na série americana ao invés de uma, como ocorreu nas séries catalã e italiana.) e também vão falar de temas mais polêmicos, como o uso de drogas. Para quem gosta da trilogia Divergente, uma das personagens adultas da série, a enfermeira Jackson, é interpretada por Octavia Spencer, que também será a Johanna nas adaptações para o cinema de Insurgente e Convergente. É possível saber mais da série no site que a Fox dedicou a ela, que você pode entrar por esse link.
Ah, também fiz uma tradução do trailer que dá para ver aqui.
Como se pode ver, “O mundo amarelo” não só inspira as séries, mas também inspira as pessoas que o leem. Penso em aplicar na minha vida varias das lições do Albert, por serem simples, mas capazes de mostrar que a vida não para com a doença, mas se transforma com ela.
Um abraço e até a próxima resenha!
Oi Lê, demorei a vir aqui, para ler e comentar :b final de semana repleto de funções... eu adorei sua resenha, apesar de andar fugindo de livros triste, por isso, sicklit é um gênero que leio pouco... sou muito chorona e sofro muito com as estórias, mesmo as 'de mentirinha'...
ResponderExcluirVamos ter que aprender a colocar os vídeos da Rai no blogger, até tentei melhorá-los, mas só piorei, kkk
Beijos
Olá Cintia!
ResponderExcluirCuriosamente, no dia que comprei o livro, minha mãe, ao ler as orelhas e a contra-capa, também pensou que fosse um livro triste e que só falava do câncer como algo ruim e cruel. Mas quando li e depois contei para ela que o Albert passou lições tão alegres e marcantes, que provam que a vida existe apesar do câncer, que ela também teve vontade de ler.
Sobre os vídeos, eu até achei que era um problema do Blogger essa questão de eles aparecerem cortados, mas acho que vou ter que mandar mesmo um e-mail a Rai para saber o que fazer.
Um abraço!