Uma nova coluna... com um convidado amigo... para postar resenhas... resenhas de livros diferentes... livros que não tivemos oportunidade de ler... ou que tem uma outra concepção dos livros que normalmente resenhamos... e por que chamarmos de 'Um outro olhar'?
Hoje teremos mais uma resenha de Letícia, que à partir de agora, pelo menos uma vez por mês, vai resenhar uma novidade para o blog. Seja bem vinda, Lê!
Antes de começar, devo dizer que
demorei muito para ler esse livro, pois além do meu trabalho como farmacêutica
e de um trabalho de conclusão de curso que estava fazendo para a faculdade de
computação (Sim, fiz duas faculdades ao mesmo tempo), que me tiravam o tempo de
leitura, e de eu não ser uma leitora veloz, eu também ficava angustiada ao ver
o que a Clara passa devido a esse amor obsessivo. Muitas vezes, dava vontade de
entrar na história e dar uma de justiceira para cima de Christian, sentimento
que acho que vocês também têm ao ler ou ver sobre um caso de stalking no jornal
ou na TV. Outras vezes parava a leitura por medo do que poderia ocorrer com a
Clara, seja em seu passado ou em seu presente.
Sim, porque esse livro, narrado
em 1ª pessoa por Clara, intercala entre o passado onde ela se apaixonou e
sofreu com a obsessão de Christian e o presente em que ela sai com seu pai para
morar na ilha Bishop Rock, fugindo da perseguição do ex até o capitulo 17.
Depois desse capitulo, passa a ser contado só o presente da protagonista.
A história começa quando Clara Oates encontra Christian Nilsson durante uma partida de basquete colegial. Ela ficou logo apaixonada pelo loiro dinamarquês de olhos azuis, sotaque escandinavo, ombros largos e bumbum perfeito. Mas só conseguiram conversar quando as equipes de seus colégios se enfrentaram novamente. Eles começaram a se encontrar e a namorar, mas após uma ida ao bar com os amigos dele, nós leitores começamos a ver, junto com a Clara, o lado obsessivo dele. Nessas horas vemos que Clara tenta analisar suas atitudes durante esse romance, tentando entender o porquê de o Christian se tornar tão possessivo, mostrando que ela se acha um pouco culpada por ele agir assim.
Tentei segurar a mão de Christian, mas ele não me permitiu. Ele mal falava comigo. E quando voltamos para o carro, ele deu partida com força e seu rosto estava com uma expressão tensa. Ele parecia outra pessoa. (página 72)
Quando vamos aos capítulos em que
a Clara já está em Bishop Rock, vemos uma jovem que tem que fugir de tudo
(amigos, vizinhos, colégio, etc.) para não sofrer novamente por causa da
perseguição de Christian. Vemos que ela cria hábitos e costumes para tentar se
proteger e o medo se instalou nela, mas só quando avançamos na história com o
Christian é vemos quais foram os fatos que a tornaram assim.
Você vê como eu sou? Toda medrosa agora. Uma velha, um galho raspando no vidro, o vento nas árvores, que era apenas o vento, qualquer coisa tinha a capacidade de me transportar para aquele lugar onde eu fiquei tão assustada, tão, tão assustada, que eu praticamente poderia sentir aquela mão agarrando meu tornozelo no alto da escada. Tinha a ver com não saber o que aconteceria a seguir. Não tinha nada a ver com uma velha senhora e tamancos de jardim. (página 55)
Mas nem tudo é triste na vida de
Clara em Bishop Rock, pois ela acaba conhecendo os irmãos Jack e Finn Bishop,
que são marinheiros que levam pessoas por passeios turísticos de barco pela
ilha e ela acaba engatando um romance com Finn, que a ama, mas que respeita sua
individualidade e a ajuda a curar desse sofrimento. Mas o stalking praticado
por Christian pode arruinar tudo.
Como falei, a trama te deixa
angustiada, porque essa intercalação entre passado e presente faz você pensar
no que o Christian fez que tornou a vida de Clara um pesadelo e se isso tudo
poderia ter sido evitado. Além do mais, em Bishop Rock, Clara acaba também
descobrindo um pouco mais sobre o seu passado, principalmente sobre a morte da
sua mãe.
O pai de Clara, Bobby Oates, que
é um escritor de suspense à la James
Patterson (leia-se: Seus livros são um sucesso mundial e já foram adaptados
para o cinema), foi um dos personagens que mais me agradaram. Além de ter um
segredo ligado a já citada morte de sua esposa, ele também acaba sendo um
grande apoio para Clara em seus momentos mais difíceis. No inicio do livro, a
Clara comenta que ele possui uma pele morena que fazia as pessoas pensarem que
ele é italiano e que as mulheres costumam se sentir atraídas por sua beleza e charme.
Ele também me arrancou risos com a sua investigação para descobrir que era o
dono da casa que ele alugou em Bishop Rock.
Elas gostavam do seu jeito, e ele, frequentemente, recebia cartas delas, inspiradas na foto que aparecia na contracapa de seus livros. (página 26)
Há também a Sylvie Genovese, a
guardiã do farol da Ponta da Cabeça do Pombo, que é italiana (Ok, alguém já
percebeu minha preferência por italianos), que possui um passado misterioso e
que irá ser a chefe da Clara em seu emprego como guia turística. Acho que o
italiano ficou tão bem registrado na minha cabeça que quando lia as cenas dela,
eu já imaginava o sotaque.
Ela não era nada do que eu imaginava. Nada. Deveria ter no máximo uns 30 anos, com os longos cabelos pretos e encaracolados caindo pelas costas, olhos escuros intensos e sobrancelhas grossas. Usava calça e jaqueta jeans com as mangas enroladas e uma camisa branca por baixo. (página 49)
O mais interessante do livro são
as notas de rodapé. Antes de ler, eu pensava que eram notas de tradução, mas
quando li, via que eram notas da própria Clara comentando sobre sua história. E
em alguns casos, essas notas complementam os pensamentos de Clara sobre o que
aconteceu com ela.
Não sei se vocês conseguem ver a nota de rodapé, mas é que ainda não tenho uma boa habilidade com fotos de celular. |
Há também a relação entre os nomes
de lugares e de um barco que a Clara conhece em Bishop Rock e sua história com
o Christian, que ela acaba considerando como uma metáfora. Esses nomes são Desfiladeiro
da Desilusão, Possesion Point (Ponto da Possesão) e Obsession (Obsessão). Os
dois primeiros, curiosamente são nomes de locais reais, pois a própria Deb
Caletti conta em seu site (www.debcaletti.com)
que retirou esses nomes de locais de Whidbey Island, localizada no estado de
Washington nos Estados Unidos e que foi a base para a criação de Bishop Rock,
enquanto Obsession, o nome do barco dos irmãos Bishop, é um nome retirado de um
conjunto de perfumes da grife Calvin Klein, comentado por Finn em uma de suas
falas.
O perfume Obsession feminino de Calvin Klein, que é citado em Um Lugar para Ficar. Fonte da foto: Sephora |
Um lugar para ficar usa uma história
forte para falar sobre o stalking, que é o ato de perseguir uma pessoa
insistentemente seja pessoalmente, seguindo-a por onde ela vai ou virtualmente,
através de telefonemas, e-mails, SMS, ou até mesmo por revelação de fatos ou
publicação de boatos em sites e redes sociais. Essa perseguição gera no alvo a
perda de sua privacidade e danos ao seu emocional. Dentro desse conceito, no
livro acontece um fato que não vai agradar a todos: As origens da obsessão de
Christian por Clara não são descobertas. Eu compreendi isso porque entendi que
o livro foi contado do ponto de vista da Clara e nem mesmo ela pode entender
como ele teve esse comportamento. Minha opinião é que muitas das vezes, a
obsessão de um stalker como o Christian vem dentro de sua mente e nunca é
incentivado pelo seu alvo, podendo ela se alimentada por padrões sociais,
preconceitos, dependência emocional e também pelo machismo.
Um monte de papel não é defesa contra a vontade de alguém. Ordens de proteção são documentos racionais, que são intimações a pessoas irracionais, uma solução para um problema que ainda não tem resposta. (Nota da página 262)
Esse livro é uma prova que os
livros de ficção também são um espaço para discutir temas sociais, não podendo
ser considerados por algumas pessoas como livros sem conteúdo. Por isso, merece
ser lido e discutido em família, para que todos possam aprender mais sobre este
problema tão grave.
Um abraço e até a próxima resenha!
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