Aqui colocaremos doses (pequenas citações) de livros difíceis de serem resenhados, mas que não podemos deixar de mencionar, serão pequenas pílulas de alegria... sabedoria... poesia... conhecimento e sonhos...
As quintas-feiras eram reservadas para a Nathy e Paty dividirem suas resenhas, mas ambas estão com vidas muito atribuladas e ainda ajudando amigas em outros blogs... e por isso, estão com dificuldades de manterem seus posts no Fotos e Livros.
Para inaugurar este post... nada melhor que um dos meus autores favoritos em matéria de crônicas... daqueles que me fazem refletir, filosofar, sonhar... e sempre usando citações de outros grandes nomes da literatura mundial.
RUBEM ALVES
"Mas aí olho para a mesa e um livro de capa verde me lembra que não vivo no Paraíso, que não tenho o direito de viver pelo prazer. Há deveres que me esperam. O que todos pedem de mim não é que eu floresça como os ipês, mas que eu cumpra os meus deveres - muito embora eles me levem para bem longe da minha felicidade. Pois dever é isto: aquela voz que grita mais alto que minhas flores não nascidas - os meus desejos - e me obriga a fazer o que não quero. Pois, se eu quisesse, ela não precisaria gritar. Eu faria por puro prazer. E se grita, para me obrigar à obediência, é porque o que o dever ordena não é aquilo que a alma pede. Daí a sabedoria de dois versos de Fernando Pessoa. Primeiro, aquele em que diz: 'Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!'. Desavergonhado, irresponsável, corruptor da juventude, deveria ser obrigado a tomar cicuta, como Sócrates! Não é nada disso. Ele só dia a verdade: só podemos ser felizes quando formos como os ipês; quando florescermos porque florecemos; quando ninguém nos ordena o que fazer, e o que fazemos é só um filho do prazer. E o outro verso, aquele em que diz que somos o intervalo entre o nosso desejo e aquilo que o desejo dos outros fez de nós."
Trecho extraído da crônica 'Fazer nada' (pág 77) no livro As melhores crônicas de RUBEM ALVES - Editora Papirus