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#DominaçãoDistópica - Firefly

Por Convidado Fotos e Livros •
14 dezembro 2012

Vale a pena ver de novo: Firefly (e Serenity)


Texto é de autoria da Márcia Fantini, lá do blog M V Universe
Existe um grande número de boas séries que foram canceladas, algumas por baixa na audiência, outras por divergências internas e outras por forças ocultas ou outros motivos quaisquer. Muitas delas merecem ser vistas, ou revistas, mesmo que não tenham finalização, como ocorre na maioria dos casos. Pessoalmente, acho um imenso desrespeito quando uma série é encerrada sem que os fãs saibam o destino dos seus personagens. Querem um exemplo? Tinha uma série a que eu assistia, popular (bobinha, mas eu gostava), que terminou sua segunda temporada com uma das personagens principais sendo atropelada. A série foi cancelada e até hoje me pergunto o que aconteceu: morreu? (protagonista, meio difícil), teve sequelas?... ou apenas sofreu um arranhão? Um cliffhanger sem respostas. Detesto isto!

De qualquer forma, com o fenômeno da internet, que não tem como ser ignorado, nem por gerações antigas nem pelas novas, hoje não temos desculpas para deixar de matar a saudade de alguma série destas, ou até mesmo conhecê-las (e o Netflix e a iTunes store estão ajudando demais nisso, diga-se de passagem, especialmente o primeiro, no Brasil!). Tenho uma lista imensa para rever, e outro tanto para conhecer, mas no topo da lista sempre está Firefly.



Esta série foi cancelada devido à baixa audiência e é minha série favorita, não há dúvida disto. Ela conquistou esta posição pela perfeição de elementos que juntou: trama, elenco, ambientação, finalização, direção, fotografia. Enfim, o pacote completo.

Podem pensar que é delírio de fã, pode até ser um “cadinho”, mas a série tem seus méritos. E é justamente sobre seus méritos que quero falar com vocês. Quero dar 10 bons motivos para que vocês dêem uma chance à série e a assistam, mas alerto que ela pode provocar amor eterno:

1) A série já demonstrava sua tendência a ser clássica/épica desde sua concepção. Joss Whedon é seu criador, com um currículo invejável no quesito “séries”- Buffy e CSI, e desenvolveu a série com a premissa de que ela mostraria o cotidiano do lado perdedor de uma guerra. Como voltar a uma rotina após ver seus ideais serem destroçados numa guerra? Retomar sua vida seguindo a filosofia e as regras do lado vencedor, com as quais você não concorda? Era exatamente esta experiência que Whedon queria nos mostrar e que tem tudo a ver com esse lance de distopia off-world.

Entretanto, nada foi fácil para levar esta ideia ao ar. Desde que apresentou o projeto à FOX foram diversas discussões para encontrar um ponto de equilíbrio entre a visão de Whedon e o que a emissora desejava. Um dos  pontos de discórdia era o tom do seriado, já que a emissora considerava o protagonista, Malcolm “Mal” Reynold, muito sombrio. Depois de muita pressão para que tornasse Mal mais “alegre”, e com o primeiro episódio já gravado, Whedon e Tim Minear entraram em reclusão num único fim de semana para escrever um outro piloto (coisa que a FOX também fez com Dollhouse… outra distopia, embora não off-world, pelo menos Dollhouse ganhou um final decente... entre outros motivos, porque, ao que parece, a FOX acha que seus telespectadores não conseguem acompanhar muita informação ao mesmo tempo; mas parece que a FOX realmente não gosta de séries que fazem as pessoas pensarem demais e/ou distópicas, já que Fringe também corre risco de cancelamento...). Nessa nova abordagem, o capitão era mais “feliz”, e, por ordens da emissora, adicionaram personagens emblemáticos (Crow e os homens de “mãos azuis”). Foi o primeiro episódio a ser exibido.

Na verdade a emissora não estava nada feliz com o fato de o programa ser sobre uns pobres coitados perdedores, mas, após tantos obstáculos, finalmente a série foi ao ar. Ainda mantinha a premissa original, sofreu pequenas modificações para agradar a emissora, porém não fugiu do que Whedon realmente desejava.

2) Mostra como seria a vida pregressa de um Han Solo. O foco da série sempre foram os personagens, vistos em circunstâncias humildes. Nada de grandeza, nada de uma luta entre o bem e o mal [ou seja, como Joss Whedon adora fazem em suas séries, mostrando o lado cinza da Força ;)]. Apenas humanos levando sua vida, convivendo com suas mazelas e tentando sobreviver a mais um dia. O próprio Whedon definiu o objetivo da série numa entrevista como: “contar o dia a dia de um Han Solo, fora de uma causa maior”.  E acho que ele conseguiu isto. O Capitão Malcom era um rebelde derrotado, já tinha estado na “causa maior”, lutando contra o totalitarismo político da Aliança e perdeu. Seu único objetivo é manter a sucateada Firefly no ar e proteger sua tripulação. Muito diferente do que seria Han Solo fora da guerra (na qual por sinal entrou por acidente?) Não, acredito que sua vida seria muito parecida com a de Mal: sobreviver a mais um dia, com sua dose de cinismo e ousadia.

3) Roteiros inteligentes e sem pontas soltas. O principal escritor da série foi Tim Minear, escolhido por Whedon para liderar a produção, justamente por conhecê-la tanto quanto seu criador. Foram feitas cuidadosas entrevistas que selecionaram a equipe responsável por escrever os roteiros: José Molina, Ben Edlund, Cheryl Cain, Brett Matthews, Drew Greenberg e Jane Espenson. Uma das coisas que me cativou na série foi que tratou seu telespectador com respeito, não como uma “abóbora”. Os personagens eram críveis, com histórias simples e dramas possíveis. Além disto, os roteiros dosavam de forma equilibrada o drama inerente à série, afinal eles eram perdedores e sobreviventes, e o toque de humor peculiar que ela trazia (a arte de rir de nós mesmo que todos deveríamos aprender). Todos os episódios merece ser vistos, nenhum é desnecessário.

4) A mistura na dose certa de sci-fi, humor e drama como poucas séries sabem fazer.  Como falei acima, os roteiros sempre foram muito bem elaborados (aliás, uma característica de Whedon nas suas séries em geral, pois mesmo Buffy ― ah, não me controlo, sem contar spoiler pros hereges que não viram Buffy pra quem ainda não teve a oportunidade de ver Buffy, a série contém elementos distópicos desde o começo... ―, com orçamento curtíssimo, efeitos porquíssimos ― especialmente na primeira temporada ― e recursos de câmeras patéticos, mesmo para a época, por falta de orçamento ― Oi, FOX?! ― os roteiros! <3), respeitando as características individuais dos personagens e a linha mestra da série: a história de um grupo de “perdedores”, num faroeste espacial. A inspiração visual e também do enredo foi a guerra civil americana. Percebemos isto claramente no jeito de vestir do capitão Mal, bem como no visual das cidades que formam a Aliança e nas que estão na fronteira. A série se passa no futuro distante do ano de 2517, com a humanidade colonizando um novo sistema solar (totalmente sci-fi). Temos personagens densos, com passados conturbados e perseguidos, com dificuldades em lidar com sentimentos e um tanto azarados, drama na medida certa sem pieguice. Ah, e temos muito humor nas ironias de Mal, na personalidade dúbia de Jayne, na perseguição discreta de Kaylee ao Doutor (justificada na minha opinião) e nas diversas situações complicadas que eles acabam por entrar “acidentalmente”. Gosto deste humor, um tanto ácido por vezes. A série soube misturar estes três ingredientes de forma inteligente, sem transformar-se numa comédia caricata de uma ficção ou um melodrama mexicano espacial.

5) A química entre os personagens. Como já foi dito, a série é centralizada nos personagens, eles são o foco do trabalho e tiveram uma atenção toda especial em sua criação. São personagens fortes, com um passado emblemático e com características muito próprias. Não são caricatos, nem representam uma força: bem ou mal. São humanos, com falhas de caráter, vícios, dúvidas e erram, feio às vezes. A cada episódio conhecemos um pouco mais sobre eles e entendemos algumas atitudes tomadas. Fazem parte da tripulação de Firefly, comandada pelo Capitão Malcom: a primeira imediata Zoe Washburne, veterana “casaco-marrom”; Hoban "Wash" Washburne é o piloto da nave e marido de Zoe, o personagem mais “leve” da série; Jayne Cobb, um mercenário amoral e psicótico; Kaywinnit Lee "Kaylee" Frye, a mecânica da nave.

Alguns passageiros fizeram da nave seu lar: Inara Serra, uma companheira (um mistura de gueixa e prostituta, porém reverenciada), locatária de uma das naves auxiliares da Firefly; Derrial Book, um pastor com passado obscuro e suspeito; Simon Tam, que acaba se tornando o médico oficial da nave, e sua irmã River Tam, uma ex-cobaia da Aliança.
A química perfeita entre os atores fez com que a interação entre os personagens refletisse isto. Não é a toa que a série conquistou tantos fãs e o elenco participa até hoje de convenções sobre ela. E, não podemos esquecer: tornou Nathan Fillion um ídolo. Seu personagem, Capitão Malcon, tornou-se icônico fazendo com que o ator (também dono de uma personalidade “nerd” cativante) ganhasse uma legião de fãs fiéis, que acompanham seu trabalho até hoje. O melhor é perceber o carinho que Fillion tem pelo personagem, participando das convenções e trazendo Mal e Firefly para outros trabalhos seus, como em Castle, onde pipocam seguidamente referências a série e ao personagem.

6) Uma das músicas-tema mais memoráveis da história. A belíssima canção "The Ballad of Serenity", cantada por Sonny Rhodes, foi composta pelo próprio Whedon, que a escreveu antes mesmo de vender a série. E, sendo o criador da série, sua letra combinou perfeitamente com a trama e a idéia central. Não bastasse ser uma bela composição, encaixou-se perfeitamente na voz de Sonny. Com um timbre meio rouco, meio sofrido, o intérprete tornou a música tema ainda mais “pessoal”.

7) Cenários e ambientação deslumbrantes. Percebemos o quanto a série foi cuidadosamente produzida ao observarmos os detalhes; além dos pontos que citei até agora, temos a questão dos cenários. A série foi pensada como um faroeste espacial, e os cenários fazem justiça a esta idéia: planícies poeirentas, cidades com casas de madeira ou sapê, os clássicos arbustos secos voando na estrada, cercados com cavalos e gados. E do nada temos espaçonaves modernas sobrevoando as cidades, com toda a tecnologia de ponta necessária, carros flutuantes contrastando com carroças puxadas por parelhas de cavalo, armas que emitem laser... Os cenários adequaram perfeitamente a idéia do novo convivendo com o primitivo, assim como demonstram claramente as diferenças econômicas entre os planetas da Aliança e os da fronteira.

8) O respeito cientifico da série. O seriado mostrava cenas do espaço em que não havia nenhum som, implicitamente observando a falta de transmissão de som no vácuo do espaço. Algo diferente da maioria dos programas de ficção científica que adicionavam sons para efeito dramático ou para aumentar a ação. As batalhas silenciosas externamente contrastavam com o caos interno da nave.

Apesar de não ser uma questão de respeito cientifico (até porque a ciência nunca provou a existência – ou a não existência – de “homenzinhos verdes”), acho interessante perceber que, diferentemente do que se vê na esmagadora maioria de filmes (e séries) de ficção cientifica, a única espécie que aparece é a humana. Nada de ETs estilizados, monstros e nem “homenzinhos verdes”. Apenas humanos.

9) Para se entender como a dedicação de fãs consegue fazer coisas sensacionais. Firefly criou uma legião de fãs, que se auto-intitulam "browncoats" (casacos marrons). Os "browncoats", quando souberam do cancelamento da série, mobilizaram-se para tentar salvá-la. Fizeram uma campanha, arrecadando verba que garantiu a publicação de um anúncio numa revista de grande circulação no país e o envio de milhares de cartões para a UPN pedindo a continuidade do seriado. O cancelamento não foi revertido, mas a mobilização foi suficiente para convencer a Universal a produzir um filme baseado na série, Serenity.


      Os fãs nunca desistiram do seriado, tanto que em 2006 lançaram um documentário intitulado ”Done the Impossible “ (Fizemos o Impossível), que está disponível comercialmente. Ele mostra a história de vários seguidores e como o programa afetou suas vidas, e também apresenta entrevistas com Whedon e vários membros do elenco da série. Ainda não assisti ao documentário (meu inglês é pobre demais e não achei nenhuma versão legendada), mas podem ficar certos de que ainda o verei.


10) Ter nos dado Serenity, um dos melhores filmes de sci-fi da história.  O longa Serenity foi lançado em setembro de 2005, recebendo muitas criticas positivas e diversos prêmios, porém seu maior mérito foi dar uma conclusão à série, e  uma lógica, coerente e consistente, mantendo todo o seu charme.


O filme se passa dois meses após os eventos do ultimo episódio e a trama é centrada em River, o personagem mais controverso da série, seu envolvimento com a Aliança e com os ocupantes de Serenity.  Escrito e dirigido por Whedon, contém doses certas de emoção, falando sobre temas recorrentes em toda a série: amor, amizade, lealdade, família, perda, recomeço.


Os fãs da série tiveram uma conclusão para a trama que seguiam, talvez não com as respostas esperadas, mas tiveram. Durante a divulgação, seu criador afirmou que o filme não era para existir, pois “...programas de TV fracassados não são transformados em grandes filmes – a não ser que o criador, o elenco e os fãs acreditem além da razão…”. Com certeza, este sempre foi o caso de Firefly.


Enfim, se estes dez motivos ainda não te convenceram, assista à série para entender como uma boa série pode ser injustiçada. Se já a viu e já é fã, que tal revê-la? Se ainda não é, minha aposta é que vai virar fã, assim como eu. Falando nisto, acho que vou ali assistir pela enésima vez uma série chamada Firefly. Conhece?




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1 comentários:

  1. É o estilo de filme que eu adoro! Principalmente pelo elenco escolhido e a química que há entre eles!

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